Soergueremos a cortina pela pontinha Pano de fundo tão velho, tão pesado. Veja que tempo foi antes, Tão regular - olhe, Alice. Mas sequer olhavam as horas os felizes, E retardavam o momento de propósito os covardes, Aceleravam o tempo, apressavam, os barulhentos Sem razão matavam o tempo os preguiçosos. E as rodas do tempo rangiam com o atrito - Tudo no mundo se estraga com o atrito. E então o tempo se ofendeu, E congelaram os pêndulos do tempo. E à meia-noite não bateram as doze horas Todos esperaram o meio dia, mas de novo não aconteceu Veja que tempo começou, Tão nervoso - olhe, Alice. E os felizes olharam assustados para o relógio, Os covardes entoaram uma canção lastimosa, Os tagarelas fecharam suas enormes bocas, Em coro boquiabriram-se e adormeceram os preguiçosos. Lubrifique as rodas do tempo não para o primeiro prêmio, Ele sente mesmo muita dor por causa do atrito. Não se pode ofender o tempo - É ruim e melancólico viver sem o tempo.
© Érika da Silveira Batista. Tradução, 2014